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domingo, 10 de janeiro de 2016

A Cidade do Sol

Fernando Liguori


Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.


De acordo com Aleister Crowley, cada Ritual de Iniciação na O.T.O. ativa uma específica esfera qabalística na Árvore da Vida. O Ritual de Minerval (0°) opera na esfera de Chokmah. Desde que essa é a esfera onde nos preparamos para uma nova encarnação como Estrelas Fixas, é natural que estabeleçamos uma correspondência entre esse código de crença e a iniciação. Nessa luz devemos examinar uma das primeiras afirmações que o Candidato faz diante do Saladino: Eu estou viajando pacificamente pelo Egito, indo para Heliópolis, a Cidade do Sol. A falha em compreender essa sentença, ignorando completamente o destino, a Cidade do Sol, na iniciação de Minerval é a primeira falha na execução e no entendimento da Lei Faz o que tu queres,[1] que acaba de ser colocada em movimento. Vamos nos lembrar de que a cidade Heliópolis não é mencionada em nenhum outro Ritual de Iniciação da O.T.O., sendo deixado seu significado oculto nas mãos do recém-iniciado que, após ser capturado e libertado, é lhe ofertado o livre-arbítrio – ou vontade-livre– para decidir se continua sua jornada até a Cidade do Sol ou se vê preso e a mercê de seus próprios desejos e frustrações. Não se trata de uma decisão fácil pois Chokmah, regida por Urano, também é a morada do Rei Amfortas e do caído Klingsor nos Mitos do Graal. Ambos são desejosos por empunhar a Lança Sagrada. A questão que todo Minerval recém-iniciado deveria fazer é essa: o que é Heliópilis, como eu chego lá e se eu não conseguir, o que pode acontecer?

Durante a ocupação grega no Egito, por volta de 334 a.C., Alexandre o Grande mudou o nome de duas cidades egípcias para Heliópilis, que significaCidade do Sol (polis – cidade e helios – sol). Umas dessas cidades chamava-se Annu e fora considerada um grande centro de adoração ao deus solar. Os hebreus chamavam essa cidade de ON,[2] a Palavra do Grau Minerval. Essa cidade foi fundada as margens do Nilo por volta de 2443 a.C. com o nome original de Innu, que significa lugar entre pilares. É dito que foi no local onde essa cidade foi fundada que a primeira montanha emergiu das águas de Nu e foi dela que Atum, o primeiro deus, tendo criado a si mesmo, criou o mundo depois. Nesse extrato da mitologia egípcia foi considerado que esta primeira montanha era um portal por onde as almas entravam e saiam do mundo. No Templo do Sol[3] em Heliópolis, se encontra uma Pedra fundada que representa a primeira montanha e é conhecida como Monte Primordial. Sobre ela raiam as primeiras luzes do dia. Nos textos dos sarcófagos do antigo Egito era dito que Atum subiu aos céus como um pássaro benu nas mansões do sol.[4] Acredita-se que o nome Atum é uma derivação do termo tem que significa completo ou finalizado, daí sua conexão com o sol poente. Ele foi equiparado ao deus grego do destino, Atropos, uma deidade conectada ao conceito de mortalidade, pois tudo o que é, inevitavelmente deve seguir o curso do sol através do nascimento, vida e morte, o que libera a alma para voltar a sua morada. Por isso Heliópolis era tida como um grande centro de adoração solar ao deus Rá, primeiro como Re-Tum, depois como Atum-Rá e posteriormente apenas como Tum, o sol que se põe.

O pássaro benu foi identificado com a fênix, um símbolo de renascimento, imortalidade e renovação. É interessante o relato do Papa Clemente sobre a fênix em sua primeira epístola como pontífice da Igreja Romana:

Vamos considerar um deslumbrante símbolo de ressurreição vindo das terras orientais, quer dizer, a Arábia e países ao seu redor. Existe certo pássaro chamado de fênix. É o único de sua espécie e vive por cinco mil anos. Quando chega a sua hora ele começa a se dissolver até que a morte chegue. Ele se incinera em um composto de incenso que leva mirra e outras essências, consumindo-se em chamas. No entanto, na medida em que sua carne queima e cai aos pedaços, dela nascem larvas que, nutridas pelo sumo do pássaro em decomposição, fazem nascer novas penas. Ao adquirir força e vitalidade, já com os ossos formulados a partir de suas cinzas, ele entra em uma jornada que o leva da Arábia ao Egito, a uma cidade chamada Heliópolis. E, na mais clara luz do dia, ele voa sob o olhar atento dos homens e pousa no altar do sol e tendo feito isso, retorna a sua antiga morada. O sacerdote do templo checa as datas e descobre que o pássaro retornou exatamente após período de cinco mil anos terem sido completados.

A lenda conta que toda manha o deus sol Helios pára sua carruagem (o sol) onde a fênix se banha na intenção de escutar seu canto. É interessante nesso momento notar a passagem de O Livro das Mentiras, Capítulo 62 onde Crowley diz:

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